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O mercado monetário tem, como qualquer mercado,
o seu lado de demanda e o seu lado de oferta.
Acabamos de entender, de uma maneira simplificada,
a decisão de demandar moeda por meio da teoria de preferência por liquidez,
Teoria Keynesiana básica que nos ajuda a entender a decisão de querer moeda.
O lado da oferta de moeda, como é que se dá esse processo?
Como é que a moeda é ofertada na economia e como os
instrumentos de política monetária afetam a circulação de
moeda na economia, ou seja, a moeda ofertada na economia.
Esse é aspecto muito importante, bastante complexo mas que
também nós vamos tentar trazer de maneira relativamente simples e que
vai nos ajudar a entender como a política monetária ao
ser gerenciada afeta o dispêndio doméstico,
o consumo, o investimento as exportações líquidas e
portanto produz efeito real na economia no curto prazo.
E, mais adiante também nosso objetivo é entender como a política
monetária pode ser usada para minimizar flutuações que ocorram
por outras causas, por choques sobre a economia.
Muito bem, vamos lá, o processo de oferta de moeda é processo
que envolve a decisão de três tipos de agentes diferentes na economia.
Antes da gente entender a decisão desses agentes é bastante útil que a gente
defina, muito claramente, o que seja a moeda na economia,
termos bastante pragmáticos.
Moeda, então aquilo que tem poder liberatório,
que é utilizado para saldar transações,
só pode ser duas coisas na economia,
papel moeda poder do público, ou seja, as notas de cinco,
dez 20, 50, 100 reais que eventualmente você tenha na sua carteira,
no seu bolso, as moedas metálicas, os centavos também estão nesta conta,
papel moeda poder do público mais aquilo que você depositou na sua conta corrente.
Os depósitos a vista conta corrente, só isso é moeda, mais nada.
Poxa, mas e aquilo que eu tenho lá aplicado na poupança?
Não é moeda.
É outro ativo financeiro poupança, que rende juros,
então é uma outra escolha de portfólio.
E os títulos públicos?
Título público é título público.
Moeda é apenas o papel moeda que tá poder da população do público geral,
os agente bancários e não bancários e os
depósitos à vista contas-correntes no sistema bancário.
Porque quando você usa no nosso exemplo anterior,
o cartão de débito pra fazer o pagamento da sua compra na padaria,
você está usando moeda.
Este agregado monetário, assim chamado é conhecido na literatura como M1.
Então quando nós falamos de oferta de moeda,
nós estamos falando de agregado monetário M1.
Este agregado monetário, ele é analisado
da perspectiva da decisão do público
entre qual a proporção desse recurso mantido
moeda que ficará no formato efetivamente de notas e moedas
metálicas ou será depositado no seu banco, na sua conta-corrente
pra que você possa fazer transações usando seu cartão de débito.
Essa decisão é uma decisão unicamente do público.
Ela depende obviamente da tecnologia
utilizada como sistema de pagamentos na economia.
Conforme haja uma evolução dessa tecnologia,
há uma tendência natural para que as pessoas mantenham
praticamente a totalidade da sua moeda no formato de depósito à vista.
Hoje cada vez mais fácil encontrar
pessoas que fazem todos os seus pagamentos com o seu cartão de débito.
Então, desenvolvimento tecnológico do sistema de
pagamentos afeta a decisão do agente do quanto vai manter como
moeda no seu bolso e do quanto vai colocar na sua conta-corrente, de tal forma que,
quanto mais a população tenha acesso ao sistema bancário, ou seja,
quanto mais populares forem as contas-correntes, mais acessíveis forem
as contas-correntes, geral, média na população maior
vai ser a proporção de moeda mantida como depósito à vista.
E essa é uma decisão muito interessante, muito importante porque ela depende
única e exclusivamente do público, ou seja, do detentor da moeda.
O Banco Central não pode dizer qual a parcela da moeda que
nós cidadãos vamos deixar no nosso bolso ou vamos deixar na nossa conta-corrente.
Essa é uma decisão só e única e exclusiva do público que está
condicionada pelo ambiente institucional e tecnológico porém pode ser mudada.
Pensemos o seguinte,
uma situação de crise que haja uma desconfiança de que o
sistema bancário vai ter uma séria crise,
bancos vão fechar e nós vamos ter aí risco maior
relação aos nossos recursos, ao nosso dinheiro,
à nossa moeda que está depositada nesses bancos, o que acontece, normalmente?
Pânico bancário.
As pessoas vão até o banco e querem sacar a sua moeda da sua conta-corrente
e guardar embaixo do seu colchão, pois então, elas podem fazer isso?
Podem, portanto, essa decisão é uma decisão do público,
ela não muda muito ao longo do tempo.
É uma decisão que dado ambiente institucional e tecnológico
é bastante estável e só tem mudanças circunstâncias realmente de maior
percepção de risco por parte do público, desconfiança relação a segurança
do sistema bancário o que raramente acontece economias desenvolvidas.
Exceto, obviamente, situações de crises financeiras ou bancárias ou como,
por exemplo, o que vivemos recentemente 2007 e 2008, mas
condições normais de temperatura e pressão essa decisão é relativamente estável,
mas ela é uma decisão importante, porque essa decisão vai afetar disponibilidade
de recursos para os bancos comerciais que propiciarão
efeito muito importante de circulação de moeda,
que é o efeito multiplicador e que é originário
exatamente da captação de recursos contas-correntes,
depósitos á vista por parte dos agentes na economia.
Então, quanto maior o percentual de moeda mantido no
formato de depósito à vista e essa é uma decisão do público,
maior oferta de recursos que os bancos comerciais possuem à custo zero,
porque não há remuneração sobre recursos depósito à vista, moeda não paga juros.
Maior é a oferta de recursos para o sistema bancário
comercial com custo zero e que pode ser emprestado
pra outros agentes na estrutura do sistema bancário por uma
determinada taxa de juros, ou seja,
a captação de depósitos à vista é uma fonte importante,
relevante de recursos para o processo de intermediação bancária.
Então, quando banco capta depósito à vista empresta
esse recurso também no curto, curtíssimo prazo pra outros agentes,
por exemplo, uma empresa que necessite de recursos pra capital de giro,
que queira descontar uma duplicata, ou seja, recursos de curto,
curtíssimo prazo, isso faz com que nós tenhamos processo de
empréstimos por meio do sistema bancário a partir da captação de depósitos à vista.
Bom, negócio da China, vamos pensar assim.
Banco é uma empresa como qualquer outra que tem objetivo
de maximizar o seu lucro dito de forma simplificada,
se ele pode captar recursos a zero e pode emprestar a uma
taxa de juros positiva, qual seria a lógica?
Emprestar 100 por cento dos recursos captados à vista,
porque isso maximizaria a lucratividade do banco.
Porém, isso produziria efeito bastante perigoso no sistema bancário,
que é o risco de iliquidez do sistema bancário.
Então, a estrutura do sistema bancário, se fosse deixada
a sua própria decisão, necessariamente
levaria à situações recorrentes de falta de liquidez no sistema.
Significa que, quando você coloca 1000 reais na sua conta corrente
e você vai usar esses 1000 reais pagamentos ao longo de período de tempo,
os bancos vão usar esses 1000 reais para emprestar para outros agentes.
Se todo esse recurso, ou seja, os 1000 reais fosse emprestado para outros agentes
e você, o dono desses 1000 reais, decidisse ir ao seu banco sacar 1000
reais no caixa eletrônico e mantê-lo espécie no seu bolso,
notas, o que é que aconteceria?
Esses 1000 reais não estariam disponíveis.
Não existiriam, não estariam lá para serem devolvidos para você e isso, obviamente,
causaria pânico, uma corrida bancária por falta de liquidez no sistema bancário.
É por isso que, conforme os bancos centrais foram se institucionalizando
nas economias desenvolvidas, o Banco Central regula esse sistema.
Regula significa: ele estabelece percentual desses
depósitos a vista que não pode ser utilizado pelos bancos comerciais no seu
processo de empréstimos a partir da capitação desses recursos.
Esse percentual é aquilo que nós chamamos de percentual de reservas compulsórias.
Então, as reservas são pedacinho dos depósitos a vista que os bancos
comerciais, os bancos que recebem contas correntes, que têm contas correntes e,
portanto, recebem depósitos a vista, eles são obrigados, compulsório,
eles são obrigados a recolher aos cofres do Banco Central e é
exatamente esse percentual que vai garantir a liquidez do sistema bancário.
Então, quando eu vou ao banco e quero sacar tudo que eu tenho na minha conta
corrente, eu não vou ter problema nenhum.
É claro que se todo mundo for ao mesmo tempo sacar tudo que tem na sua conta
corrente, nós teremos uma crise bancária, obviamente,
mas a possibilidade disso acontecer é muito pequena.
Então, basta que nós tenhamos uma boa estimativa de qual é o fluxo médio
de depósitos e de saques contas correntes que nós teremos aí, então,
qual é o percentual médio de reservas compulsórias
que o Banco Central deve estabelecer no sistema bancário.
Então, vejam que quando há, então, esta definição das reservas
compulsórias e esta é uma definição que está sob a responsabilidade de quem?
Do Banco Central.
Portanto, este é o nosso primeiro instrumento de política monetária.
Significa que estabelecer o percentual de reservas compulsórias
interfere no processo de oferta de moeda da economia.
Ao interferir nesse processo, como nós veremos daqui a pouco,
interfere ou guia a formação das taxas de juros básicas da economia.
Então, vamos pensar mais pouquinho.
Este percentual, qual seria o ideal deste percentual?
Depende muito da economia, da sociedade, da cultura dessa população,
do desenvolvimento tecnológico desse sistema bancário,
mas poderia ser algo como, nos países desenvolvidos,
entre cinco a dez por cento dos depósitos a vista,
seriam suficientes como reservas de garantia de liquidez do sistema.
Porém, quando Banco Central estabelece percentuais de reservas compulsórias
muito elevados, claramente ele está utilizando essa sua prerrogativa
de estabelecer qual o percentual deve ser recolhido,
não pode ser usado para empréstimos,
ele está usando essa prerrogativa como instrumento de política monetária.
Que sentido?
Quanto maior o percentual de reservas compulsórias, menos recursos dos depósitos
a vista sobram para os bancos comerciais emprestarem para outros agentes.
Isto diminui a circulação da moeda.
Isto diminui, o que nós chamamos de multiplicador bancário.
Ao diminuir o multiplicador bancário, a oferta de moeda,
a moeda circulação na economia cai.
Haverá menos moeda disponível circulando na economia com depósito compulsório,
com uma taxa de reservas compulsórias mais elevada definida pelo Banco Central.
Então, é nesse sentido, nesse processo de empréstimo a partir da capitação a vista,
que nós chamamos de "criação", porque não é uma criação efetiva,
os bancos comerciais não imprimem novas cédulas,
só quem pode fazer isso é o Banco Central, mas eles aceleram o processo de
circulação da moeda por meio do processo de capitação a vista e empréstimo.
Então, se nós tivermos percentual baixo de reservas compulsórias,
esse processo é potencializado.
Portanto, o multiplicador bancário cresce e a oferta de moeda na economia cresce.
É importante a gente observar que,
embora as reservas compulsórias sejam obrigatórias,
como o próprio nome já diz, nada impede que os próprios bancos comerciais
definam uma manutenção de reservas voluntárias,
ou seja, os banco comerciais, por iniciativa própria,
podem escolher não emprestar todos os
recursos que sobrarem depois de recolhidos os depósitos compulsórios.
Por quê que banco faria isso?
Por quê que banco deixaria de ganhar, se o custo da capitação é
zero e o retorno do empréstimo é positivo?
Bom, o banco pode decidir manter reservas voluntárias situações,
por exemplo, de inadimplência muito elevada.
Situações que o risco do pagamento desse recurso por quem está tomando emprestado,
o risco do não pagamento, no caso, seja muito elevado.
Ele pode tomar essa decisão, porque ele está, por exemplo,
escolhendo ficar com o liquidez,
com o caixa, para fazer operações mais rentáveis,
que ele espera ter a oportunidade de fazer no futuro.
Então, ele pode especular,
ele pode decidir não emprestar todos os recursos disponíveis.
Isso é uma decisão exclusivamente de quem?
Dos bancos comerciais.
É nesse sentido que, assim como a decisão do público,
a decisão dos bancos comerciais também vai afetar o processo de oferta de moeda.
Assim, a decisão também dos bancos comerciais é relevante
para a oferta de moeda na economia.
Quanto mais os bancos escolhem manter reservas voluntárias, seja como caixa,
seja como depósitos adicionais na conta de reservas no Banco Central,
mais eles produzem o efeito de diminuir o processo de circulação da moeda,
ou seja, menor o multiplicador monetário, portanto, menor a oferta de moeda.
Esse multiplicador é aplicado a partir de montante
inicial de moeda que nós denominamos base monetária.
A base monetária é conceito contábil e que corresponde ao
passivo monetário do Banco Central.
Basicamente, o que é que tem nesse passivo monetário?
O papel moeda papel do público mais o
total de reservas do sistema bancário.
Neste total de reservas nós temos as reservas compulsórias e, eventualmente,
as reservas voluntárias que os próprios bancos decidam manter.
Então, este é o montante de moeda que nós podemos pensar como sendo efetivamente
criado e colocado circulação pelo Banco Central.
Então, a base monetária é o princípio do processo de oferta de moeda.
A partir da base monetária, a decisão do público do quanto
manter de moeda no seu bolso ou na sua conta corrente,
a decisão dos bancos comerciais de manter ou não reservas voluntárias e aqui,
neste momento, nós já temos uma das importantes decisões do
Banco Central que é a escolha, o estabelecimento do percentual de
reservas compulsórias que cada banco deverá obedecer.
Então, essas três decisões vão afetar o processo de
multiplicação de moeda, ou seja, o multiplicador monetário.
Além dessas decisões, há ainda mais duas
decisões que são mais dois instrumentos de política
monetária que estão sob a responsabilidade do Banco Central.
Então, é por isso que, de forma simplificada, nós sempre associamos
a oferta de moeda na economia ao Banco Central, como se o
Banco Central fosse o único responsável pela oferta de moeda na economia.
Na prática, não é bem assim que acontece.
A gente está acabando de ver que a decisão do público, a decisão dos bancos
comerciais também afetam o processo de oferta de moeda na economia.
Isso é muito importante, porque nós vamos observar que as decisões dos bancos
de realocar portfólio vai afetar a oferta de moeda na economia e que,
portanto, pode requerer balanceamento dessa ação por parte do
Banco Central na gestão da política monetária.
Fiquem atentos que eu vou retornar a esse ponto já já.
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